Laminina e células-tronco: potencial para transformar o tratamento da lesão medular
- Júlia Linhares
- 5 de out.
- 3 min de leitura
Nos últimos dias, viralizou a história de uma pessoa com lesão medular que voltou a andar após terapia experimental envolvendo laminina. No estudo apresentado na reportagem, a substância foi aplicada diretamente na medula (injeção intramedular) em um grupo pequeno com lesão grave (AIS A); entre os acompanhados, houve ganhos de movimento, conversões AIS A→C/D, reaparecimento de condução elétrica (MEP), retorno à marcha em caso destacado e recuperação de função vesical — resultados iniciais de caráter excepcional e sem precedentes que motivam novas etapas de avaliação.
O ponto que quase não apareceu no noticiário é central: laminina e células-tronco mesenquimais caminham pela mesma lógica biológica. As CTMs também produzem laminina no próprio tecido— exatamente a linha de pesquisa que a R-Crio investiga com a nossa consultora científica, Dra. Karla Menezes.
Laminina: o “andaime/cola” que reorganiza o microambiente neuronal
A laminina é uma proteína estrutural da matriz extracelular; pense nela como andaime e cola biológica que ancoram células e orientam o crescimento de fibras nervosas. Em estudos pré-clinicos e no clínico mencionado de lesão medular, a laminina foi associada a melhora da locomoção, menor inflamação, redução de cicatriz glial (a barreira que dificulta reconexões) e mais fibras nervosas cruzando a área lesionada (Menezes et al., 2010).

Laminina e células-tronco mesenquimais
Aqui entra o porquê de falarmos em laminina e células-tronco mesenquimais na mesma conversa. Em modelos pré-clínicos de lesão medular tratados com CTMs humanas (derivadas de tecido adiposo), os autores observaram melhora funcional (escala BBB), menos cavidades e infiltrado inflamatório no centro da lesão, mais fibras serotonérgicas (5-HT) atravessando a região e, sobretudo, depósito de laminina de origem humana no tecido, inclusive próximo a vasos, formando redes que se estendem além das próprias células que a secretam. Ou seja: as CTMs entregam laminina no local e ajudam a montar esse “tapete” biológico onde a reconexão acontece. Da laminina às células (Menezes et al., 2014)
Além de fornecer laminina, as CTMs modulam o microambiente da lesão: reduzem a inflamação, diminuem a cicatriz e favorecem a microcirculação e os circuitos neurais. Ao depositarem laminina no próprio local, elas criam um substrato que atrai e organiza precursores neurais — células imaturas capazes de gerar neurônios e outras células do sistema nervoso — ampliando a reposição celular e a reconexão. Em paralelo, o depósito perivascular de laminina associado a marcadores de vasos (RECA1) é compatível com estímulo de angiogênese (formação de novos vasos), melhorando o aporte de oxigênio e nutrientes ao tecido em reparo. Esse conjunto de efeitos prepara e sustenta o terreno onde a laminina atua, o que justifica combinar a lógica da matriz organizada com a capacidade orquestradora das CTMs (Menezes et al., 2020).
Novos horizontes por vir
Os relatos clínicos iniciais com laminina aplicada diretamente na medula apontam uma rota promissora; em paralelo, as células-tronco mesenquimais — capazes de produzir laminina e orquestrar o microambiente (menos inflamação, menos cicatriz, mais suporte vascular e reconexões) — configuram uma via complementar e biologicamente coerente com essa estratégia que está sendo investigada. O futuro da lesão medular começa a ser escrito agora. Ao lado da Dra. Karla Menezes, a R-Crio pesquisa com rigor, responsabilidade e visão de longo prazo — para preservar o que você tem de melhor.
Fontes:
Menezes, Karla, et al. “Polylaminin, a Polymeric Form of Laminin, Promotes Regeneration after Spinal Cord Injury.” The FASEB Journal, vol. 24, no. 11, 2010, pp. 4513–4522. https://doi.org/10.1096/fj.10-157628.
Menezes, Karla, et al. “Human Mesenchymal Cells from Adipose Tissue Deposit Laminin and Promote Regeneration of Injured Spinal Cord in Rats.” PLOS ONE, vol. 9, no. 5, 2014, e96020. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0096020
Menezes, Karla, et al. “Human Mesenchymal Stromal/Stem Cells Recruit Resident Pericytes and Induce Blood Vessels Maturation to Repair Experimental Spinal Cord Injury in Rats.” Scientific Reports, vol. 10, no. 1, 2020, article 19604. https://doi.org/10.1038/s41598-020-76290-0
Texto de blog produzido com auxilio de AI
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